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  5 de maio de 2023

Eduardo Kobra exalta a coexistência e a tolerância em seu novo mural, em Benin, na África


Fonte: Airton Gontow

Fotos: Divulgação

Além de realizar o mural, de cerca de 700 metros quadrados, Eduardo Kobra utilizou os dias no país para visitar lugares que mostram o horror do tráfico de escravos. Esta é a segunda vez que Eduardo Kobra realiza um mural na África. A primeira foi em 2017, quando esteve no Malauí a convite da cantora Madonna para pintar três murais, um deles sobre Nelson Mandela.

O muralista brasileiro Eduardo Kobra entregou na cidade de Cotonou, na República de Benin (République du Bénin), na África, um magnífico mural de 700 metros quadrados, ainda sem nome, sua primeira obra no País.  Antes de viajar, o mundialmente conhecido artista urbano fez uma imersão na cultura e história do país e ficou particularmente encantado com a diversidade de religiões e com tolerância, respeito e harmonia existente entre elas. Após realizar cerca de 20 esboços, chegou à conclusão de que precisaria de um muro com um formato específico e inusitado para a realização do seu mural, pedido que foi aceito pelas autoridades do país, que construíram o muro.

A partir daí Kobra convidou atores de uma companhia de teatro da sua região e produziu doze deles com figurinos que representam religiões. Os atores serviram de modelos para a cena imaginada por Kobra e que o artista realizou agora no país africano. “São doze pessoas, como referência às doze províncias que formam Benin. Na arte, todos estão de costas, abraçados e olhando para o céu. Nas estrelas, vemos constelações que formam ícones de religiões. E no centro do mural, há a Terra, a África e duas mãos ‘abraçadas’. A mensagem é clara e, acredito, universal, bem de acordo com os murais em que destacamos a coexistência. Neste mural, ao mesmo tempo em que falamos sobre Benin, também falamos sobre a África, o Planeta e a Humanidade: somente com união, tolerância e respeito é que construiremos um mundo melhor”, diz o muralista.

Esta é a segunda vez que Eduardo Kobra realiza um mural na África. A primeira foi em 2017, quando esteve na cidade de Blantyre, no Malauí, a convite da cantora Madonna, para pintar três murais, um deles sobre Nelson Mandela, no hospital pediátrico Mercy James Center, construído por ela.

“Fiquei extremamente sensibilizado com o convite para pintar em Benin, que partiu do próprio presidente Patrice Talon”, diz Kobra, que acrescenta: “Eu já tinha interesse em conhecer o país, que tem laços com o Brasil e está presente em vários elementos da cultura brasileira. Infelizmente a história entre os dois países começou de uma forma horrorosa. Foi aqui, na atual cidade de Uidá, que no século XVII os portugueses estabeleceram o porto comercial, que foi a rota fundamental e cruel para o comércio de escravos.  Os negros capturados eram vendidos para o continente americano, grande parte para o Brasil. É triste, trágico e vergonhoso, o que só reforça a mensagem do mural. Todos devemos respeitar a diferenças e, ao mesmo tempo, saber que todos somos iguais”.

O muralista fez questão de visitar algumas regiões de Benin, e ver de perto lugares que marcam esse passado.  “Lugares que relembram o cruel passado escravocrata que não deve ser esquecido, para nunca mais ser repetido”, segundo diz.

Kobra destaca alguns desses locais, todos em Uidá: Foi muito impactante e triste visitar o Portal do Não Retorno, o último lugar onde os escravizados ficavam antes de embarcar. E os escravos sabiam que não iriam voltar. É um monumento construído no local de embarque dos escravos. Também marcou demais a visita a uma praça onde as pessoas eram comercializadas. De acordo com as informações que tive, os escravos eram conduzidos a pé, cerca de 150 km, até esse lugar, para serem vendidos. Destaco também a visita que fiz ao Memorial que recorda aqueles que morreram devido as condições insalubres. O Memorial foi feito em um lugar onde foram encontradas centenas de corpos e ali fizeram esse memorial. É terrível ver que até mesmo antes de embarcar, muitas pessoas morriam, tamanha a desumanidade com que eram tratadas”, relata o artista, que volta ainda essa semana para o Brasil.