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  28 de março de 2023

Estilista publica ficção sobre disparidades de gênero na moda


Fonte: Maria Clara Menezes – LC Agência

Fotos: Divulgação

No livro “Com que realidades essas camisolas acordam?”, a escritora e antropóloga Raquel Marinho traça o perfil das profissionais que precisam equilibrar trabalho com exigências do lar

Estilista especializada em moda íntima, antropóloga e pesquisadora das representações da figura feminina nas estruturas sociais, a autora utiliza as próprias vivências para a construção do enredo. Na obra, ela conta a história de Amanda, uma designer renomada no mercado. A personagem é a representação das mulheres “multitarefas” – que são obrigadas a absorver todas as responsabilidades para sobreviver.

A protagonista enfrenta inúmeras adversidades em um cargo de coordenadoria. Há, por exemplo, a dúvida de colegas homens sobre seu desempenho. Ela ainda precisa dobrar a dedicação nas especializações, na tentativa de provar que pode ocupar funções de chefia. Entretanto, o trabalho não é seu único problema: um dos filhos fica doente e, dentro de uma relação amorosa pautada pelas desigualdades de gênero, torna-se a única responsável por cuidar dele.

Viver exige sabedoria! A vida contemporânea exige muito de nós: trabalho, estudos, família, relações pessoais, obrigações das mais variadas, essa tal evolução, esse tal empoderamento, esse tal ousar pensar, ousar crescer exige muito. Ao longo dessa viagem, mesmo sem conhecer os desafios de Amanda, entendi que quando uma mulher vem de uma origem muito simples, o esforço para progredir precisa ser multiplicado por muito, as cobranças parecem maiores, é necessário muito esforço para se manter serena e em equilíbrio, ou ao menos buscá-lo, principalmente quando a alma está maltratada. (Com que realidades essas camisolas acordam?, pg. 88)

Amanda é como qualquer outra mulher vista como empoderada, sempre dividida entre a exigência de ser superqualificada no emprego e a necessidade de cumprir dois papéis no núcleo familiar. O enredo é definido, portanto, como um “romance-crônica” porque, ao mesmo tempo que é uma ficção, também representa a realidade de diversas profissionais.

“A narrativa se desdobra revelando as constantes condições da mulher na sociedade, a partir da ilusão do empoderamento feminino no meio de questões como beleza, dinheiro, emprego e posição”, reflete a autora. Para ela, empoderar-se é pressupor que o poder foi perdido em algum momento, por isso, parte da luta feminina deve ser voltada para não permitir esta perda.